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Writer's picture João Paz

Recomendações para os que vão ensinar online devido ao coronavírus - Tony Bates


Com os relatos de cada vez mais instituições a encerrar o campus por causa do coronavírus, e mesmo aquelas que não fecham aconselhando os seus instrutores a transferir as suas aulas online, pergunto-me que conselhos ou ajuda estes professores estão a obter dos seus órgãos diretivos. Neste caso, o que é que eu recomendaria?



1. Obtenha aconselhamento e ajuda profissionais antes de começar


Antes de fazer o que quer que seja, fale com alguém responsável pela aprendizagem online na sua instituição. (É provável que seja posto em lista de espera – disseram-me que estão invulgarmente ocupados neste momento – mas valerá a pena esperar.). NÃO é boa ideia começar imediatamente e improvisar. Ensinar online não é ciência aeroespacial, mas precisa de uma abordagem diferente do ensino em sala de aula. Obtenha primeiro aconselhamento de um profissional.


Mesmo que não exista uma exigência atual de passar para online, é boa ideia estar preparado com muita antecedência, por isso comece a falar AGORA com as pessoas responsáveis pela aprendizagem online. (Isto não é muito simples, eu sei. Para alguns, a ajuda poderá vir de alguém do departamento, ou docentes, responsável(is) pela aprendizagem online na sua instituição; para outros, pode significar contactar o Centro de Educação Online e a Distância, que pode estar na Aprendizagem ao Longa da Vida, ou o Centro de Ensino e Aprendizagem, ou o Centro de Tecnologias de Aprendizagem.)

Ouçam o que eles disserem, especialmente se for diferente dos conselhos que dou abaixo!



2. Use a tecnologia adequada


Este conselho dependerá, em certa medida, de até que ponto for tardia a decisão de passar para o online. Se lhe for pedido que passe imediatamente para o online, sem qualquer aviso ou preparação, tudo o que conseguirá fazer, provavelmente, é fazer preleções online. No entanto, pergunte, mesmo assim, ao responsável pela aprendizagem online que tecnologia usar para fornecer as suas preleções.


Pode ser que já tenha instalado um sistema registo, o que lhe permitirá gravar e transmitir em streaming (muito mais conveniente para os alunos do que a transmissão em direto) essas preleções. Terá então a estranha experiência de ensinar para a uma sala de conferências vazia. Compreenderá, então, porque é que LeBron James se recusa a jogar num campo de basquetebol vazio. Mas pode não ter essa opção de se recusar a fazê-lo.


No entanto, pode ser melhor utilizar um sistema de videoconferência com suporte institucional, como o ZOOM, a partir do seu computador pessoal. Isto fará com que a preleção pareça mais íntima, como se estivesse a falar com um aluno individual, e também permitirá um certo nível de interação direta com os alunos, pois é possível usar o Chat integrado, ou, se os números forem relativamente pequenos (abaixo dos 30), comunicação áudio e vídeo diretas. A plataforma ZOOM até permite usar salas separadas virtuais, onde os alunos podem ser agrupados online para debater e voltar depois com uma resposta de grupo. Pode igualmente partilhar o ecrã para alternar entre a sua imagem através da câmara de vídeo do computador e diapositivos de uma apresentação.


Aqui ficam outras sugestões fornecidos pelos leitores: será útil utilizar auriculares e, se os alunos estiverem com problemas de largura de banda, desligue a sua câmara do ZOOM ou doutro sistema que adotou e utilize apenas diapositivos com narração, de preferência a partir dos auriculares/microfone (lembre-se de ajustar as definições do áudio do computador antes de começar). No meu caso, muitas vezes consigo fazê-lo sem os auriculares, mas é melhor prevenir do que remediar, especialmente se estiver numa casa ruidosa. Os adolescentes em casa a jogar videojogos também podem restringir a largura de banda do wi-fi da sua casa. (Não tenho conselhos sobre como os impedir de o fazer!)


É fácil para os alunos acederem ao ZOOM. O seu departamento de TI pode criar – ou ensiná-lo a configurar – um URL do ZOOM para uma Unidade Curricular específica, bastando enviar o URL aos alunos por e-mail, precisando apenas de clicar nele para se ligarem. (Precisarão, primeiro, de descarregar a app ZOOM para o seu computador pessoal, mas apenas uma vez, e é algo fácil de fazer).


O ZOOM é apenas um dos muitos sistemas do mesmo tipo; não vale a pensa debater qual o melhor, utilize o que a sua instituição suporta para que possa sempre obter ajuda se precisar. Por exemplo, o tamanho da turma é importante – alguns sistemas funcionam muito bem para números com menos de 30 anos, mas não tão bem como outros para números acima de 200.



3. Organize-se


No entanto, mesmo para esta forma mais simples de fazer preleções online, você precisa de organização e preparação anteriores. Em primeiro lugar, precisa, se ainda não o fez, de criar um espaço para o seu curso no sistema de gestão de aprendizagem institucional (SGE), como o Blackboard, o Canvas ou o D2L.Há várias razões para isso:


- É preciso informar os alunos quando está a fazer as preleções, que trabalho precisam de fazer antes ou depois, as datas dos trabalhos e como submetê-los online. Isto é mais fácil de fazer no SGE, que é editável (por si), permanente e está acessível aos alunos 24 horas por dia e 7 dias por semana, do que na sua própria preleção; também evita inúmeros e-mails de administração de turma, uma vez que todos os alunos têm acesso 24 horas por dia e 7 dias por semana ao SGE;


- É nele que pode, não só apresentar um calendário das preleções, como também fornecer recursos adicionais, tais como ligações para artigos relacionados com as preleções, leituras adicionais, etc.;


- Pode fornecer ligações para as suas preleções gravadas dentro do SGE, para que os alunos as possam voltar a ouvir e assistir as vezes que precisarem;


- Os alunos podem aceder diretamente a todos os recursos na Biblioteca da instituição;

pode configurar fóruns de discussão online, com questões que definiu para debate relativamente à sua preleção, de modo a maximizar o uso das preleções (ver mais abaixo sobre como deve manter as suas palestras curtas).


O SGE é o sítio onde os alunos devem ir primeiro; imagine as suas preleções não como a fonte de conteúdos principal, ou mesmo única, no curso, mas apenas como um dos vários recursos de aprendizagem num ambiente de aprendizagem online mais completo. É aqui que os profissionais da educação online podem ser uma mais valia ao ajudá-lo a conceber e criar esse ambiente de aprendizagem online global. O SGE é o equivalente online do seu campus físico.



4. Evite preleções extensas


Mantenha as suas preleções online com uma extensão inferior a 20 minutos – ou divida-as em partes de 15 minutos com atividades para os alunos após cada parte. A apresentação deve abranger o esboço dos principais tópicos, ou os pontos-chave de uma exposição alargada, permitindo ao aluno fazer mais pesquisas sobre os detalhes, através de leituras adicionais ou de vídeos disponíveis na Web. Procure recursos educativos abertos já existentes e que sejam gratuitos para uso educativo, para que não tenha de apresentar tudo sozinho. (Sim, até você se pode tornar aborrecido após 20 minutos).


Existem várias razões para manter as preleções online (na verdade, quaisquer preleções) curtas:


- A investigação sobre a duração da capacidade de atenção e a sobrecarga cognitiva (ver os Princípios de Design para Multimédia da Universidade British Columbia).


- Os estudantes online tendem a trabalhar em pequenos períodos de menos de uma hora sem pausas. Por exemplo, podem estudar numa viagem de autocarro ou comboio, ou, se estudarem em casa, são suscetíveis de serem interrompidos por cônjuges, filhos, colegas de apartamento ou horas de refeição.


- Os estudantes aprendem melhor se estiverem ativos. Isso significa construir exercícios curtos, oportunidades de discussão online, pequenos projetos não avaliados, que podem ser integrados online numa preleção mais longa gravada.



5. Cuidado com a carga de trabalho dos estudantes


Outra razão para manter a componente de preleção formal curta é dar tempo aos alunos para fazerem outras atividades de aprendizagem a partir da preleção principal. O perigo, todavia, é que se torna fácil sobrecarregar os alunos com trabalho extra.


É útil fazer uma estimativa de quanto tempo por semana um aluno médio deve passar a estudar na sua Unidade Curricular (tendo em consideração que podem estar a fazer mais quatro Unidades Curriculares ao mesmo tempo). Costumo assumir um máximo de 8 a 10 horas de tempo de estudo por semana, numa Unidade Curricular de três créditos, incluindo trabalhos. Se forem usadas mais de três horas por semana apenas para assistir a preleções em vídeo, resta pouco tempo para outras atividades, como leituras adicionais, debates online e trabalhos.


Pergunte a si próprio: qual é a melhor maneira de os alunos usarem essas 8-10 horas por semana, se estão a estudar online? Quantas horas devem corresponder a preleções? Quantas horas devem corresponder a estudo autónomo? Como me posso certificar de que estão a comunicar com outros alunos online, para que não se sintam socialmente isolados, e qual a melhor forma de utilizarem essa comunicação para promover a sua aprendizagem?


É por isso que, se possível, deve gastar algum tempo a pensar e a planear a sua Unidade Curricular antes de passar para o ensino online, mesmo que esteja a planear que essa Unidade Curricular assente nas suas preleções de sala de aula.



6. Evite, de todo, as preleções


Quando fazemos uma preleção, estamos a fazer a maior parte do trabalho. Decidimos o que é importante aprender, onde encontrar a informação necessária, como selecionar e organizar os conteúdos, como construir uma exposição ou um modelo teórico sobre o tema, e fazemos a apresentação. Mas não seria melhor ensinar os próprios alunos a fazê-lo?


A partir do momento em que os estudantes passam para a educação online, podem encontrar, analisar, avaliar e apresentar conteúdo se forem devidamente guiados. Por que não ensinar os seus estudantes a fazer as preleções da sua Unidade Curricular? Ou melhor, criar um e-portfolio que mostre como eles lidaram com a tarefa, que pode ser a base para a sua avaliação. É apenas uma ideia.


Existem muitas maneiras de usar o vídeo que são melhores do que as preleções (ver Ideias e Estratégias para Usar Vídeo na Sala de Aula, da Faculdade de Artes da UBC ou as minhas capacidades pedagógicas do vídeo, para alguns exemplos). Existe, atualmente, uma enorme quantidade recursos em vídeo disponível gratuitamente, a partir dos quais poderá construir uma Unidade Curricular sem demasiadas preleções. Contacte o seu consultor para a educação online, Biblioteca ou Centro de Tecnologias de Aprendizagem sobre recursos educativos abertos em vídeo disponíveis na sua área.



7. Faça o melhor que puder nas circunstâncias atuais


Bom, todos os professores o fazem, certo? No entanto, se quiser seguir as melhores boas práticas gerais na aprendizagem online, e evitar preleções, precisa de mais do que alguns dias de preparação. Também precisa de trabalhar com profissionais da educação online, que podem ajudá-lo a repensar o seu ensino. Ou pode ler o meu livro online, gratuito, Teaching in a Digital Age.


Entretanto, enquanto dura o pânico em volta do coronavírus, boa sorte com a transferência das suas palestras para o online. Mas, quando o pânico passar, pense também em ensinar online corretamente.



Tradução de João Paz, a partir de https://www.tonybates.ca/2020/03/09/advice-to-those-about-to-teach-online-because-of-the-corona-virus/, com autorização do autor. Não foi traduzido o tópico final, 8. Recursos adicionais, dado que estes recursos já foram disponibilizados no nosso site.

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1 comentário


Ester Vieira Saraiva
Ester Vieira Saraiva
14 de abr. de 2020

Um artigo mito bom e muito útil!

Muito obrigado Professor pela sua contribuição!

Ester

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