O que convém evitar?
No ensino online devemos prestar particular atenção à gestão da comunicação entre os intervenientes no processo.
É conveniente restringir a comunicação unipessoal, por exemplo através de e-mail, promovendo a criação de espaços, como fóruns, onde as dúvidas e/ou pedidos de esclarecimento sejam colocados pelos estudantes e respondidas pelo professor, ou eventualmente, em certas ocasiões, por outros estudantes, tendo em mente que a dúvida de um estudante pode ser a mesma de outros colegas seus. Evita-se, assim, também a proliferação de canais de comunicação, permitindo ao professor gerir a comunicação de forma adequada, diminuindo, deste modo, situações de stress.
Por outro lado, é importante saber gerir as expetativas de interação que surgem neste contexto, criando um equilíbrio temporal entre o momento em que as questões são levantadas pelos estudantes e aquele em que o professor responde. Assim, é de evitar uma resposta imediata sistemática às perguntas colocadas, que pode criar expectativas irrealistas por parte dos estudantes, e impossíveis de cumprir posteriormente. Contudo, é também necessário evitar que essa resposta demore demasiado tempo (24h, no máximo 48h caso haja um elevado número de estudantes ou um pico de questões colocadas em simultâneo), de modo a evitar ansiedade e desmotivação por parte dos estudantes. Estes aspetos devem ser explicitados e contratualizados com os estudantes desde o início.
O facto de estudantes e professor não coabitarem o mesmo espaço físico propicia, não raras vezes, uma relação mais próxima e intimista do que aquela que ocorre num cenário presencial, levando os estudantes a exporem-se sem os constrangimentos que existem, em certas circunstâncias, numa relação presencial. Nesse sentido, deve evitar-se uma comunicação demasiado formal, e ter especial cuidado com aspetos que podem gerar ambiguidade e/ou conflito: a crítica demasiado dura, o humor não devidamente contextualizado, ou uma reação a quente a uma interação percebida como incorreta, por exemplo.
Outro dos aspetos a evitar é a utilização de uma linguagem complexa, confusa e desnecessariamente verbosa nas instruções das atividades e tarefas. Estas devem ser claras, sucintas, e de fácil leitura, para evitar interpretações erradas ou, até, uma leitura em diagonal por parte dos estudantes.
É reconhecida a importância que pode ter a utilização dos vídeos em contextos de ensino-aprendizagem online para determinados fins: sínteses de conteúdos relevantes, apresentação de conteúdos por parte de especialistas de renome, clarificações e aprofundamentos por parte do professor, situações em que se revele importante os estudantes visualizarem determinadas realidades/situações (experiências na área da química ou da física, simulações, etc.), para dar alguns exemplos. Contudo, deve evitar-se um excesso de utilização deste recurso, e privilegiar-se a variedade e diversidade de materiais e estratégias. Quando se utiliza o vídeo, um dos aspetos a ter em consideração é a sua duração. Devem evitar-se vídeos muito longos (mais de 15 minutos), e estes devem ser sempre acompanhados de propostas de atividades que envolvam e estimulem os estudantes. Tal como com os outros recursos, a apresentação dos aspetos a trabalhar pelos estudantes deve ser feita numa linguagem clara e objetiva, evitando expressões equívocas, focar-se nos tópicos principais e assumir-se como um fator de motivação, estimulando inclusive os estudantes a desenvolver as suas próprias pesquisas, sob orientação do professor.
Maria do Carmo Teixeira Pinto
O que posso esperar?
Maior intensidade da relação de comunicação
A participação de professores e de estudantes é essencial para no ensino online de raiz participativa e colaborativa que propomos. No entanto, o professor deve ter presente que estes processos deve ser regulados, de modo a evitar níveis de interação insustentáveis. Alguns aspetos de natureza prática podem facilitar a ação neste domínio, tais como:
-
Definição de regras claras de comunicação e netiqueta;
-
Clareza e coerência de linguagem na definição de objetivos, atividades, bem como de instrumentos mediadores de aprendizagem e de avaliação;
-
Envolvimento dos estudantes em dinâmicas de moderação grupos restritos ou de comunidades de aprendizagem;
-
Realização de atividades colaborativas, em pares ou em grupos mais alargados.
Estes aspetos moderam a intensidade dos fluxos de comunicação, com reflexos positivos na aprendizagem dos estudantes. Mensagens longas, aulas expositivas síncronas ou gravadas contribuem para a desmotivação e silenciamento dos estudantes.
Importância da gestão cultural da presença online
Sendo uma modalidade de ensino e aprendizagem sem “muros”, nem fronteiras, as diferenças culturais fazem parte da matriz identitária do processo pedagógico online. Por esta razão, professores e estudantes devem ser capazes de adotar um vasto leque estratégias que valorizem a diversidade cultural, como, por exemplo:
-
Criação de um clima de aula que facilite a participação de todos os estudantes;
-
Promoção de contextos de aprendizagem colaborativa on-line multicultural com um elevado investimento na colaboração entre pares;
-
Uso de recursos linguísticos bilingues;
-
Prevenção de comportamentos estereotipados;
-
Sensibilização para as questões globais;
-
Organização de turmas de moderada dimensão – em turmas com um elevado número de estudantes é mais difícil regular poderes culturais assimétricos, ambíguos e individualistas;
-
Incorporar a cultura como eixo estruturante do processo de aprendizagem colaborativa;
-
Mobilizar o desenvolvimento de competências de comunicação intercultural em docentes e estudantes.
Maior carga de trabalho (estudante e professor)
Os tempos de ensino e de aprendizagem na educação online e no ensino presencial são percecionados de modo diferente. Por esta razão, o professor, por um lado, deve avaliar os tempos de que dispõe e investi-los nas etapas fundamentais do curso/unidade curricular já referidas- planeamento do curso/unidade curricular; conceção de materiais do curso; orientação dos estudantes; feedback e avaliação; gestão da comunicação e das interações.
É também desejável que o professor clarifique alguns mitos, ou seja, que informe que não está disponível 24/7; defina o prazo máximo de resposta aos estudantes; clarifique o tipo de participação esperada dos estudantes em cada umas das atividades a realizar.
Deve, ainda, ter uma perceção clara sobre os tempos médios que os estudantes investem em tarefas como: leituras de fontes científicas, realização de atividades (em colaboração ou individuais) ou participação em discussões. A avaliação irrealista dos tempos necessários para a realização das atividades pode criar sobrecarga informativa de difícil gestão (pedidos de esclarecimento, adiamentos de prazos de conclusão de tarefas) e, consequentemente, por em risco a trajetória de comunidades de estudantes.
Bates publicou recentemente um conjunto de recomendações que podem ajudar a evitar alguns destes aspetos críticos.
Competências digitais e acesso ao campus virtual
Regra geral, a inscrição em cursos online tem como pré-requisitos o acesso à Internet, bem como o domínio de competências digitais básicas. No entanto, o facto de estes aspetos estarem garantidos não dispensa outro tipo de ações que assegure a inclusão digital do estudante nos processos de aprendizagem online. Deste modo, a instituição que acolhe o estudante deve promover iniciativas que permitam ao estudante:
-
conhecer bem a organização e funcionalidades do campus virtual – esta dimensão parece ter um peso mais relevante na inclusão do estudante do que as competências digitais básicas (estas dão-se por adquiridas);
-
dominar ferramentas disponíveis para comunicação (fórum, chat, mensagens), colaboração (wikis, glossários, bases de dados), ou de opinião (consulta, diário, inquérito), compatibilidades, modos rápidos de acesso, secretarias online, associações, entre outros.
-
ter um acompanhamento próximo, seja através de uma sólida equipa técnica que garante suporte regular, seja criando comunidades de pares que facilitem o contacto com as diferentes áreas do campus virtual, bem como das ferramentas tecnológicas disponíveis.
Tendo em conta as boas práticas neste domínio, a Universidade Aberta (UAb) proporciona, aos seus estudantes, um curso breve de ambientação online, de frequência obrigatória, no 1º ano em frequentam a UAb.
Este problema assume outros contornos no caso da transição digital no ensino básico e secundário. Nestes níveis de ensino obrigatório, o acesso a computadores e Internet, bem como as competências básicas para o seu uso, devem ser garantidos a todas as crianças, sem exceção, de modo a garantir que as clivagens digitais não são acentuadas com a disseminação de práticas de ensino e aprendizagem online.
Luísa Aires