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Writer's pictureAlcindo Ferreira da Silva

Ensino a distância e estratégia de ensino e formação

Ensino a distância e estratégias para a educação e formação

Há tantos anos que não pensava nisto. Reformei-me, virei agulhas, arrumei as botas e as prateleiras.

Convidaram-me para reflectir convosco a minha experiência. Talvez não seja má ideia tentar relembrar como tudo começou e um marinheiro se pôs a fazer ensino a distância.

Estávamos no início dois anos 90 e a Marinha tinha um problema com os seus profissionais que não tinham as habilitações académicas necessárias para a progressão na carreira, que os novos estatutos exigiam. Chamaram-me e propuseram-me a tarefa de encontrar as soluções que permitissem que a Marinha pudesse continuar a contar com esses excelentes profissionais apanhados numa das curvas da legislação. Ao aceitá-la, proporcionar a todos os profissionais da Marinha a oportunidade de elevarem os seus níveis académicos até ao 12º ano de escolaridade, estava longe de pensar que essa tarefa iria preencher o resto da minha vida profissional.

Entretanto, havia já na Direcção de Formação da Marinha a ideia de recorrer ao ensino a distância. Pessoalmente, embora tivesse sido formador nas Escolas de Armas Submarinas e de Fuzileiros, e professor de Português durante um ano do ensino básico e secundário não tinha qualquer formação pedagógica.

Fui colocado num organismo que se chamava Centro de Instrução por Correspondência com a finalidade de assumir a sua direcção quando o projecto de ensino a distância se iniciasse. Um camarada que prestava serviço na Direcção de Formação informou-me que tinham adquirido há pouco tempo uma série de livros sobre Ensino a Distância que estavam na Biblioteca. Fui lá buscá-los e saí um pouco desanimado e de queixo à banda com os títulos. Era uma colecção de livros do tipo "How to make …" Open leaning, Materials for distance learning, etc. organizada, creio, por Roger Lewis da Open University. O que é certo, é que depois de os folhear no autocarro de regresso a casa, nos dois ou três dias seguinte os devorei todos e comecei a ter algumas ideias do que era isso de ensino a distância. Entre parêntesis, lembrem-se sempre de que as check lists também podem ser muito úteis.

Poucos dias depois fui a Inglaterra ver o que faziam na Open University e no NCDE - Naval Centre for Distance Education. Vim de lá com a ideia de que copiar aquilo para Portugal e para a Marinha não ia dar, mas que havia muitas ideias boas para adaptar. Estudei depois o que faziam a Marinha e a Força Aérea americanas. Fiquei assustado. Nunca teria o dinheiro para fazer coisas daquelas. Tentei saber o que faziam os franceses no CNED, os alemães, os noruegueses, os australianos, os canadianos os sul-africanos. De todos eles fui recolhendo ideias, mas sempre com um problema … o dinheiro. Ao fim de uns meses lá saiu o projecto e o orçamento, escritos e impressos, diga-se de passagem, a partir de um pré-histórico Spectrum.

Entretanto, uma das coisas em que fui matutando era o nome da coisa que eu ia dirigir. Lá estava o Centro de Instrução por Correspondência, criado pelo visão inovadora do Comandante Saturnino Monteiro no final dos anos 70, mas que entretanto se tinha deixado envelhecer irremediavelmente. Era preciso arranjar-lhe outra cara. E assim, um dia, sentei-me ao lado do então Director de Formação, o saudoso Almirante Jorge Mendes, com um papel com algumas sugestões: CED - Centro de Ensino a Distância, CFED, Centro de Formação e Ensino a Distância e mais uma ou duas alternativas. Estávamos nisto e eu vou dizendo ao almirante que tinha um outro nome, mas que tinha receio de que pudesse vir a criar confusões no futuro com o Ministério da Educação. Perguntou-me esse nome e eu lá avancei CNED - Centro Naval de Ensino a Distância. Reacção imediata. É esse! se eles fizerem um, o nosso deixa de ser necessário. No dia seguinte lá estava a proposta e dois ou três dias depois estava aprovada a mudança de nome.

Passaram quase 40 anos, o CNED, da Marinha, desapareceu na voragem da troika, sem que tivesse havido qualquer confusão com o Ministério da Educação.

As ocasiões fazem os ladrões. Talvez seja a altura de pensarem o ensino a distância como uma coisa estratégica nacional (como é creio a Universidade Aberta) e não como um conjunto de lojas de retalho.


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