Meu filho tem 12 anos e cursa o sétimo ano em uma escola privada. Em um dia havia ido normalmente para escola, interagiu com os colegas de classe e a escola, provavelmente, cumpriu o calendário pedagógico previsto para aquele dia. No dia seguinte, acordou com uma “nova escola”, conforme palavras da própria instituição de ensino. Uma escola com “ensino a distância”. Prefiro utilizar esse termo, pois é exatamente isso que as escolas estão tentando fazer: ensinar a distância. Adotam uma plataforma, carregam um tanto de conteúdos pra lá e estabelecem alguns testes. Acabam que não se concentram nem no ensino nem na aprendizagem. As plataformas têm funcionado como repositórios de textos-aulas e mais alguns testes automatizados. Não há qualquer tipo de interação entre professores-alunos ou alunos-alunos.
Por parte dos professores percebo um esforço sem tamanho para promover algum tipo de aprendizagem para seus alunos. Muitos deles têm sido chamados para gravar videoaulas sem qualquer experiência ou trato com este tipo de material didático. No entanto, só esforço não basta. Falta a muitos de nossos professores uma formação adequada para promover aprendizagem a distância. Às escolas faltam uma cultura e interesse em estender a aprendizagem para além de seus muros.
O que as escolas estão a promover não é educação remota, ensino a distância e muito menos aprendizagem a distância. Estão a promover uma forma de autoaprendizagem suportada por tecnologias.
E os alunos o que estão achando disso?
Essa é uma pergunta que devemos buscar resposta. A experiência de meu filho e dos colegas dele não é muita animadora. A pressão já é grande pelo confinamento, ainda precisam lidar, de imediato, com uma nova forma de aprender.
Precisamos ver qual sentimento vai ficar em relação a tudo isso. Será que eles querem fazer parte (ou frequentar) essa "nova escola"?
Tenho visto muitos profissionais acreditar ser esta uma oportunidade para a promoção da EAD. Talvez seja necessário olharmos mais a fundo, ver os impactos que tanto professores e alunos estão sentido nesse momento e, se após passar tudo isso, se desejarão novamente experimentar o modelo de ensino-aprendizagem a distância.
Abraços,
Fábio Fernandes
(pedagogo, servidor público e pesquisador em educação e tecnologias)
Direto de Brasília – Brasil.
A forma como o ensino está a ser levado a cabo varia de escola para escola e de País para País. A perceção que tenho é que apesar do caos inicial as coisas estão a correr bem. Existe muito apoio da parte dos professores (o grande problema reside nos alunos mais pequenos com pouca autonomia) e na dificuldade de os alunos mudarem de paradigma. E se existem plataformas que não passam de meros repositório de tarefas, outras existem que são profundamente ativas e as aulas síncronas um sucesso. O problema de se gostar ou não passa por um conjunto de fatores que se prende com as relações interpessoais e com o hábito adquirido com a prática presencial que é a única que os estudantes conhecem. Considero cedo para se tirarem ilações. Temos várias realidades em ação. Este é um tempo de experimentação e de abertura ao novo.
Sobre esse assunto partilho este post feito recentemente:
Como se estuda e aprende em tempo de pandemia pela voz "deles"
Todas as semanas, à quarta-feira, realiza-se o encontro semanal síncrono. Estas sessões têm como objetivo esclarecer dúvidas sobre o trabalho proposto e também permitir a manutenção da "presença" física e do contacto social à distância. Há ainda espaço para se debater um determinado tema sugerido pelos alunos após o preenchimento de um inquérito.